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segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Síntese do pensamento de Rosângela Machado

Este artigo parte da seguinte questão: a economia ecológica e o processo de busca de uma sociedade sustentável expressam uma tendência de ruptura da ciência econômica com o paradigma cartesiano ou, trata-se apenas de mera adaptação conceitual e instrumental da teoria econômica para incorporar o meio ambiente no campo de estudo da ciência econômica? O pressuposto de que o paradigma cartesiano determina a racionalidade da ciência econômica,também resulta válido para o resto das ciências sociais e naturais. Apesar de seu predomínio evidente o paradigma cartesiano está sendo questionado e superado por novas descobertas no campo da física e também pela sua incapacidade explícita de entender a lógica não-econômica da natureza. Esse ponto de ruptura ou de conciliação entre a economia e a ecologia se sintetiza no que se denomina de economia ecológica. Uma variante da Ciência Econômica que pouco a pouco começa a ser reconhecida no meio acadêmico e nos centros de pesquisas.
A humanidade encontra-se em uma encruzilhada histórica: continuar com a mania de crescimento ou apostar em uma sociedade sustentável com uma orientação ecológica. A primeira escolha, baseia-se na continuação do paradigma social dominante. A continuação do crescimento econômico levará à utopia (crença, fé, paraiso na terra). E os problemas de esgotamento dos recursos naturais e de poluição ambiental serão resolvidos com tecnologias cada vez mais complexas que serão pagas com crescente PNB. Os problemas da fome se resolverão disseminando por todo o mundo as tecnologias agrícolas do ocidente. O problema do crescimento demográfico se resolverá com uma tecnologia anticoncepcional aperfeiçoada e promovida pelos sistemas de educação via satélite e pela Internet. Ou seja, nesse cenário a solução dos problemas da humanidade está na combinação de crescimento econômico e habilidade tecnológica.
No cenário da sociedade sustentável o contínuo crescimento econômico dos países industrializados não melhora as condições de vida dos países pobres. O PNB é um indicador limitado. Limita-se o esgotamento dos recursos naturais (reduzindo a poluição), se maximiza a qualidade das reservas de capital, e se faz relativamente equitativa a distribuição da riqueza. Não é uma economia estática, depende fundamentalmente de fontes de energia renováveis (solar, eólica, hidroeléctrica) e não de combustíveis fósseis esgotáveis ou de energia nuclear.(Ehrlich, 1989)
A crise do paradigma dominante
A crescente preocupação com a preservação do meio ambiente e a insistência em alcançar uma sociedade sustentável, expressa de alguma forma uma profunda crise que abala nossa visão de mundo, nossos valores e idéias, e sobretudo nossa fé no crescimento econômico. Soma-se ainda, a incapacidade da macroeconomia de incorporar as preocupações de ordem social e ambiental. O pensamento econômico dominante mostra uma clara separação entre a economia e os demais espaços sociais, incluindo o meio ambiente, a natureza e os recursos naturais. Não é por acaso que há pouca ou nenhuma preocupação dos governos em conhecer e resolver os graves problemas sociais, como o desemprego, ocasionados pela implementação de medidas anti-inflacionárias ou propor programas que visem a superação dos desequilíbrios ambientais.
Por outro lado, nas nossas sociedades é muito difundida a idéia do desenvolvimento e do crescimento econômico fundamentada na tecnologia. Se apresenta a sociedade moderna ocidental como a forma mais eficaz para superar os problemas de atraso e de miséria. As idéias vindas da ecologia, parecem influenciar e sensibilizar a alguns economistas, ao ponto de chegarem a proclamar uma nova disciplina: a economia ecológica ou ambiental.
Esta, por sua vez, tenta formular um corpo de conceitos e idéias novas com o objetivo de incorporar a problemática do meio ambiente ao objeto de estudo da Ciência Econômica. Nesse sentido a economia ecológica, apresenta-se como uma simples adaptação dos instrumento analíticos da Ciência Econômica que tenta entender e solucionar os problemas originados com a crise ambiental.
Para outros autores, a Ciência Econômica é incapaz de entender os problemas ambientais, isto só será possível com uma reformulação radical de suas teorias e conceitos. De qualquer forma, há indícios que estamos diante um processo de mudança de paradigma na Ciência Econômica
As mudanças de paradigmas formam parte da dinâmica do pensamento científico, porém a maior parte das anomalias são resolvidas dentro do próprio paradigma. Abandonar um paradigma por outro resulta em uma mudança radical, por isso Khun as chama de revoluções científicas (Khun,1995). No entanto ainda não está claro se o que está acontecendo aponta para uma mudança de paradigma ou simplesmente para solução de uma anomalia nas Ciências Econômicas. A anomalia seria para nós a crise ambiental ou melhor, a incorporação da natureza como um elemento central nas análises e decisões da teoria econômica.
A história do pensamento econômico comporta mudanças de valores, idéias, em uma palavra, de paradigmas. No paradigma mercantilista da Renascença a riqueza significava a acumulação de metais preciosos, ou seja a riqueza de uma nação era produto da posse de minas e de uma balança comercial positiva.
Este paradigma significava que para obter riqueza era preciso dedicar a força de trabalho de uma nação a extrair metais preciosos sem outro uso que a cunhagem de moeda ou fabricar bens para intercambiá-los com outras nações.
Por sua vez, para os fisiocratas da França do século XVIII a agricultura e a natureza eram as únicas fontes de riqueza. O aumento da riqueza estava vinculado à reprodução de plantas e animais. Por outro lado, os economistas clássicos, consideravam que a riqueza de uma nação era produto do trabalho humano. A sua preocupação central era descobrir como se distribuía o produto do trabalho. Adam Smith acreditava que uma "mão invisível" controlaria a economia e que uma ordem natural evitaria que os indivíduos explorassem uns a outros, de tal forma que o interesse individual significasse um benefício social. Porém a miséria dos trabalhadores mostrava que a "mão invisível" não podia impedir a exploração.
De certa forma, ao considerar o trabalho como a fonte da riqueza, Marx foi um economista clássico. Porém, para os clássicos o indivíduo estava no centro das suas análises, enquanto que Marx salientou as contradições antagônicas entre duas classes sociais: os donos dos meios de produção e os não proprietários. Os primeiros pagavam o custo de reprodução dos trabalhadores, apropriando-se do produto líquido do trabalho. Essa contradição levaria à revolução.Os economistas clássicos, limitavam-se a reconhecer a possibilidade de existir conflitos econômicos. Porém, Marx considerou esses conflitos de classes como um elemento econômico central. Essa ênfase significou uma mudança de paradigma.
Ao deslocar a análise econômica para o comportamento individual, os economistas neoclássicos provocaram uma nova mudança de paradigma nas Ciências Econômicas. Para eles o valor era resultado da satisfação das necessidades subjetivas dos indivíduos. O problema que eles analisaram: como satisfazer as necessidades a partir de recursos escassos?
Keynes, nesse contexto, observou uma anomalia na alocação de recursos. Uma quantidade significativa de recursos que supostamente estava alocada de forma ótima, e que não estavam sendo utilizados. A economia clássica e neoclássica, baseada na Lei de Say, consideravam o desemprego como uma aberração. A realidade mostrava que era um problema central. Keynes mudou a perspectiva teórica do problema.
Esta situação um tanto confusa também leva a considerar a possibilidade de existir uma transição do paradigma atual da Ciência Econômica, baseado no pensamento científico cartesiano para um novo paradigma holístico e multidisciplinar. Nessa direção, alguns autores como Capra (1994)2 buscam inspiração no misticismo oriental, a fim de propor uma nova visão da natureza. Nessa tentativa Capra se "orientaliza", recorrendo ao misticismo, como uma prova da incapacidade do pensamento científico cartesiano, para entender a crise da sociedade moderna ocidental. A crise da sociedade moderna pode ser explicada a partir dos conflitos entre os pólos "YIN" e o "YANG". A ruptura, o desequilíbrio social e os problemas ambientais podem ser entendido a partir do predomínio do YAN, masculino, expansivo, exigente, agressivo, destrutivo competitivo, racional e analítico; em oposição o YIN representa o femenino, sendo também contrátil, conservador, receptivo, cooperativo, intituivo e sintético. Enquanto a filosofia oriental tem conseguido o equilíbrio entre esses dois pólos. Para o misticismo oriental, as pessoas equilibradas alteram, os dois pólos, sendo ora YANG, ora YIN.
A sociedade moderna ocidental tem desenvolvido mais os aspectos YANG, tendo eliminado aqueles aspectos conservacionistas e cooperativos. O homem tem evoluído na sua inter-relação com a natureza, passando da identidade do homem primitivo (quase uma fusão) com a natureza, sem alterar a paisagem, até a transformação do meio ambiente através da criação de animais e da agricultura. Apesar dessas modificações não havia uma ruptura no equilíbrio do sistema entre os seres vivos e o meio natural. A ameaça a esse equilíbrio surgiu com a industrialização das sociedades.(Comune, 1994)
Essa visão de mundo e esse tipo de desenvolvimento da sociedade moderna, explica-se segundo Capra (1994), pela adoção, nos últimos trezentos anos, do paradigma universal cartesiano. Ou seja, o paradigma cartesiano coincide com a formação do capitalismo, mas também foi absorvido pelas chamadas sociedades socialistas. Ambas podem ser consideradas como sociedades que têm enfatizado o crescimento econômico e a produtividade.
O paradigma cartesiano e a emergência de um novo paradigma: a economia ecológica
A sociedade moderna ocidental está experimentando diversas transições. Algumas relacionadas com os recursos naturais, outras com valores e idéias culturais; algumas podem ser consideradas como transições periódicas e outras ocorrem dentro de padrões de ascensão-e-queda. Entre essas transições Capra (1994: p.26) destaca três: A primeira refere-se ao declínio do patriarcado; a segunda refere-se ao declínio "da era do combustível fóssil" e, a terceira é a mudança de paradigma nas ciências. É sobre esta última que vamos nos deter tentando relacionar a crise do paradigma cartesiano à crise da Ciência Econômica. A mudança de paradigma significa uma mudança profunda de valores e idéias que conformam nossa visão da realidade. Os valores e idéias do atual paradigma (associadas à revolução científica, ao Iluminismo e à Revolução Industrial) em transformação, difere radicalmente daquele que dominava na Idade Média. Para o paradigma atual o método científico é a única forma válida do conhecimento; o universo é considerado como um sistema mecânico composto de unidades elementares; a vida é compreendida como uma luta competitiva de sobrevivência e por último, baseia-se na crença do crescimento econômico ilimitado a partir das inovações tecnológicas. Nas últimas décadas essas idéias e valores estão sendo questionados porque são limitados e necessitam portanto uma revisão radical. Isto aparece claramente quando decobrimos que a Ciência Econômica não dá conta da problemática ambiental.
Nós queremos afirmar aquí, que a crise da Ciência Econômica não é produto da crise ambiental, a crise ambiental evidencia essa crise, da mesma forma em que a irresolução dos principais problemas da sociedade faz aparecer a Ciência Econômica como incoerente e sem rumo. Porém o fundo da crise precisamente está em que os economistas têm isolado os processos econômicos de outros aspectos da realidade, como a cultura, o meio ambiente e também não têm considerado as consequências sociais de planos e políticas econômicas, como uma questão central. Parece que a Ciência Econômica perdeu seu poder analítico e se tornou um conjunto de técnicas e modelos matemáticos, que pouco a pouco, mas irremediavelmente se foi afastando da realidade. A separação entre economia e sociedade, ou entre economia e natureza é resultado da adoção do paradigma cartesiano, de acordo com a separação clássica de corpo e mente.
"A ênfase dada ao pensamento racional em nossa cultura está sintetizada no célebre enunciado de Descartes, 'Cogito, ergo sum' -`Penso, logo existo'-,o que encorajou eficazmente os indivíduos ocidentais a equiparem sua identidade com sua mente racional e não com seu organismo total." (Capra, 1994,p.37)
A concepção do universo como um sistema mecânico origina-se da idéia cartesiana da separação entre corpo e alma. Nesse sentido o universo baseia-se em objetos separados reduzidos a seus componentes materiais fundamentais cujas propriedades e interações, acredita-se, determinam completamente todos os fenômenos naturais. Essa concepção cartesiana da natureza foi, além disso, estendida aos organismos vivos, considerados máquinas constituídas de peças separadas. Essa concepção mecanicista está na base da maioria de nossas ciências e tem determinado a atual separação entre as disciplinas acadêmicas, e também serviu como tratamento do meio ambiente natural como se ele fosse formado de peças separadas "a serem exploradas por diferentes grupos de interesses" (Capra, 1994: p. 37.
A ciência e a tecnologia atual baseia-se na crença de que para compreender a natureza é preciso dominá-la, esta crença combinada com a concepção mecanicista do universo e a ênfase dada ao pensamento linear teve como resultado a constituição de um ambiente "simplificado, sintético e pré-fabricado", em substituição ao habitat natural e orgânico "seres humanos complexos". (Capra, 1994: p. 41)
A visão do mundo da civilização ocidental e que tem sido dominante nos últimos trezentos anos, foi formulada nos séculos XVI e XVII, e substituiu a noção de um mundo orgânico, vivo e espiritual por um mundo-máquina, onde "... a máquina do mundo converteu-se na metáfora dominante da era moderna."
A visão do mundo como uma máquina foi resultado das mudanças radicais acontecidas na física e na astronomia, sendo as realizações de Copérnico, Galileu e Newton o ponto culminante desse processo. (Capra, 1994: p.49)
"A ciência do século XVII baseou-se num novo método de investigação, defendido vigorosamente por Francis Bacon, o qual envolvia a descrição da natureza e o método analítico de raciocínio concebido pelo gênio de Descartes. Reconhecendo o papel crucial da ciência na concretização dessas importantes mudanças, os historiadores chamaram os séculos XVI e XVII de a Idade da Revolução Científica."(Capra,1994 p. 50)
A revolução científica iniciou-se com Copérnico, que se opôs à concepção geocêntrica de Ptolomeu e da biblia, que tinha sido aceita como dogma por mais de mil anos. A terra então deixou de ser o centro do universo para tornar-se um astro secundário. Galileu estabeleceu o sistema de Copérnico como teoria científica válida. Galileu foi o primeiro a combinar a experimentação científica com o uso da linguagem matemática para formular as leis da natureza por ele descobertas. A abordagem empírica e o uso da descrição matemática da natureza tornaram-se características dominante da ciência. Galileu considerou que os cientistas deveriam limitar-se ao estudo das propriedades essenciais dos corpos materiais (formas, quantidades e movimentos). De acordo com Galileu não deviam ser consideradas as outras propriedades como som, cor, sabor ou cheiro, porque apenas eram projeções mentais subjetivas que teriam que ser excluídas da ciência.
Ao mesmo tempo, na Inglaterra, Francis Bacon descrevia o método empírico da ciência. Bacon foi o primeiro a formular uma teoria do método indutivo -realizar experimentos e extrair deles conclusões gerais, a serem testadas com novos experimentos-. Esse descobrimento significou uma mudança radical na natureza da investigação científica. "Desde a Antiguidade, os objetivos da ciência tinham sido a sabedoria, a compreensão da ordem natural e a vida em harmonia com ela." A partir do século XVII o objetivo da ciência passou a ser dominar e controlar a natureza, usando para isto o conhecimento científico. Para Bacon (apud Capra, 1994: p.51-52) a natureza devia ser "obrigada a servir", "reduzida à obediência" e "escravizada". Influenciado pelos julgamentos de bruxas de seu tempo, Bacon considerava que o objetivo do cientista era "extrair da natureza, sob tortura, todos os seus segredos."
A concepção do mundo como máquina foi completada por Descartes e Newton no século XVII. Descartes é considerado como o fundador da filosofia moderna.
"Visualizou um método que lhe permitiria construir uma completa ciência da natureza, acerca da qual poderia ter absoluta certeza; uma ciência embasada como a matemática, em princípios fundamentais que dispensam demonstração...Rejeitamos todo conhecimento que é meramente provável e consideramos que só se deve acreditar naquelas coisas que são perfeitamente conhecidas e sobre as quais não pode haver dúvidas." (Descartes apud Capra, 1994: p. 53). O que se questiona de Descartes é sua crença na verdade absoluta. A Física do século XX nos mostra que não existe verdade absoluta em ciência e que todos os conceitos e teorias são aproximados.
"A crença cartesiana na verdade científica é, ainda hoje, muita difundida e reflete-se no cientificismo que se tornou típico de nossa cultura ocidental... O método de pensamento de Descartes e sua concepção da natureza influenciaram todos os ramos da ciência moderna e podem ser ainda muito úteis. Mas só o serão se suas limitações forem reconhecidas. A aceitação do ponto de vista cartesiano como verdade absoluta e do método de Descartes como o único meio válido para se chegar ao conhecimento desempenhou um importante papel na instauração de nosso atual desequilíbrio cultural."(Capra, 1994: p. 53)
O método cartesiano levou à fragmentação característica do pensamento científico moderno e provocou um reducionismo generalizado, ou seja a crença em que todos os aspectos do real podem ser reduzidos a suas partes constituintes. Descartes privilegiou a mente em relação à matéria, e concluiu que as duas eram separadas e sustancialmente diferentes. Essa divisão teve uma forte influência no pensamento científico ocidental. A concepção cartesiana da natureza está baseada nessa divisão.
"O método de Descartes é analítico. Consiste em decompor pensamentos e problemas em suas partes componentes e em dispô-las em sua ordem lógica.
Esse método analítico de raciocínio é provavelmente a maior contribuição de Descartes à Ciência" (Capra, 1994: p. 54-55)
Como vimos, para Descartes o universo material era uma máquina, sem espiritualidade nem propósito nem vida. A natureza funcionava com leis mecânicas e o mundo material podia ser explicado em função da organização e do movimento de suas partes. Ou seja, na concepção cartesiana a natureza era governada por leis matemáticas exatas. A idéia do mundo como máquina não só influenciou o pensamento científico, mas também as atitudes das pessoas em
relação ao meio ambiente natural. A visão de mundo orgánica (que considerava a natureza viva, como mãe) limitou as ações dos seres humanos. A mecanização da ciência fez desaparecer essas limitações. A cultura ocidental recebeu, da concepção cartesiana, o aval para a exploração da natureza.
Descartes estendeu sua concepção mecanicista aos seres vivos: plantas e animais. O corpo humano era idêntico ao de um animal- máquina. Ele explicou como os movimentos dos seres vivos podiam ser reduzidos a operações mecânicas. Comparou os corpos de animais ao relógio, composto de rodas e molas e estendeu essa comparação aos seres humanos.
Por sua vez, Newton forneceu uma completa formulação matemática da concepção mecanicista da natureza, realizando uma síntese das obras de Copérnico e Kepler, Bacon, Galileu e Descartes. "Ele criou um método completamente novo - o cálculo diferencial - para descrever o movimento de corpos sólidos." (Capra, 1994: p. 58) Newton utilizou esse método para formular as leis exatas do movimento para todos os corpos, sob a influência da força da gravidade.
Os pensadores do século XVIII aplicaram os princípios da mecânica newtoniana às ciencias da natureza e da sociedade humana.
"As recém criadas ciências sociais geraram grande entusiasmo, e alguns de seus proponentes proclamaram terem descoberto uma 'física social'. A teoria newtoniana do universo e a crença na abordagem racional dos problemas humanos propagaram-se tão rapidamente entre as classes médias do século XVIII, que toda essa época recebeu o nome de Iluminismo. A figura dominante nesse período foi o filósofo John Locke, cujos escritos mais importantes foram publicados no final do século XVIII. Fortemente influenciado por Descartes e Newton, a obra de Locke produziu um impacto decisivo no pensamento setecentista." (Capra, 1994: p. 64)
Da mesma forma em que os físicos newtonianos tinham reduzido as propriedades dos gases ao movimento de sua unidade básica, os átomos, Locke centrou a sua análise da sociedade no comportamento dos indivíduos. Nesse sentido, estudou primeiro a natureza do ser humano individual para depois tentar entender os problemas políticos e econômico. Também considerou que a sociedade humana está governada por leis semelhantes às leis que governam o universo físico.
"Tal como os átomos de um gás estabelecem um estado de equilíbrio, também os indivíduos humanos se estabilizariam numa sociedade num 'estado de natureza'". (Capra, 1994:P 64)
"Durante o século XIX, os cientistas continuaram a elaborar o modelo mecanicista do universo na física, química, biologia, psicologia e ciências sociais...Ao mesmo tempo, novas descobertas e novas formas de pensamento evidenciaram as limitações do modelo newtoniano e prepararam o caminho para as revoluções científicas." (Capra, 1994: p. 65)
Por exemplo a física newtoniana foi ultrapassada por Faraday e Maxwell ao substituírem o conceito de força pelo conceito mais sutil de campo de força. Assim como o eletromagnetismo superava a mecânica newtoniana, surgiu uma nova tendência de pensamento baseada na idéia de evolução, mudança, crescimento e desenvolvimento que suplantou a imagem da máquina do mundo que iria dominar o pensamento científico a partir do século XIX. O conceito de evolução se origina da geologia, ao reconhecer que o estado atual da Terra é resultado de um desenvolvimento contínuo causado pela ação de forças naturais. O pensamento evolucionista obrigou os cientistas a abandonarem a concepção do mundo como máquina.
A influência do paradigma cartesiano na Ciência Econômica se manifesta na sua ênfase na quantificação, na sua abordagem fragmentária e sua negligência na evolução estrutural da economia. Os únicos valores que são levados em conta quando se elaboram os modelos econômicos são aqueles que podem ser quantificados através da atribuição de medidas monetárias. Sem dúvida, essa ênfase na quantificação confere à Ciência Econômica a aparência de uma ciência exata. Nesse sentido, a teoria econômica tende a excluir elementos qualitativos que são essenciais para entender as dimensões ecológicas, sociais e psicológicas da atividade econômica. Por outro lado, a abordagem fragmentária dos economistas contemporâneos, sua preferência por modelos quantitativos abstratos e sua negligência pela evolução estrutural da economia provocaram uma desfasagem entre a teoria e a realidade econômica.
Essas manifestações significam um impasse e um ponto de ruptura no paradigma atual da Ciência Econômica.
"O que os economistas precisam fazer com a máxima urgência é reavaliar toda sua base conceitual e recriar modelos e teorias fundamentais de conformidade com essa reavaliação. A atual crise econômica só será superada se os economistas estiverem dispostos a participar da mudança de paradigma que está ocorrendo hoje em todos os campos." (Capra, 1994: p. 185)
É nesse movimento de ruptura que surge a chamada Economia Ecológica, apesar de que ainda não tem um reconhecimento da maioria dos economistas. A Economia Ecológica, longe de ser simplesmente uma moda, se apresenta como uma proposta que tende a superar e a substituir o paradigma cartesiano nas Ciências Econômicas, por uma visão holística e ecológica. Contudo, a Economia Ecológica encontra-se em um estágio ainda incipiente. Importantes economistas como Georgescu-Roegen (1989) e Kenneth Boulding (1989) (A terra como uma nave espacial), podem ser considerados como pioneiros desta nova perspectiva da Teoria Econômica. Eles analisam a relação entre processo econômico e meio ambiente, utilizando alguns princípios da física (entropia) para entender as relações entre meio ambiente e processo econômico.
A proposta da economia ecológica caracteriza-se por apresentar uma visão mais ampla e abrangente em termos de espaço, tempo e das partes dos sistemas a serem estudadas, e se diferencia da economia convencional pela importância dada ao meio ambiente. Para Costanza (1994) a economia convencional caracteriza-se por uma visão de mundo mecanicista e estática, que considera o indivíduo como a força dominante e os recursos naturais como ilimitados devido ao progresso técnico; a economia ecológica é dinâmica, sistemática e evolucionária, tendo uma visão holística onde os seres humanos são um dos componentes do sistema social. A economia convencional tem como objetivo principal a nível micro, a maximização do lucro e da satisfação individual (utilidade); para a economia ecológica esse objetivo micro deve ser ajustado aos objetivos do sistema e, por último a economia convencional é disciplinar enquanto que a economia ecológica tem um caráter plural.
O objetivo a nível macro da economia ecológica é a sustentabilidade do sistema econômico-ecológico combinado, e não o progresso técnico. Desse modo questiona a economia convencional que considera o progresso técnico como o meio mais eficaz para superar as limitações dos recursos e resolver os problemas da sociedade moderna, permitindo um crescimento contínuo. Apesar disso, o conceito de sustentabilidade não faz referência a uma economia estática ou estagnada, mas associa o conceito de evolução ao conceito de desenvolvimento, e o coloca em contradição ao conceito de crescimento econômico. Por isto é que o conceito de evolução ocupa um lugar central na economia ecológica. Da mesma forma em que são transmitidos os traços genéticos de uma geração para outra, igualmente a sociedade transmite valores culturais e instituições como a família e a religião.(Costanza, 1994) Esse conceito de evolução está explícito na obra de Marx, quando afirma que o socialismo surgirá das entranhas do capitalismo e ao enfatizar a unidade dialética entre pólos opostos e contraditórios. Além disso, o crescimento econômico infinito resulta contraditório e até antagônico com a finitude dos recursos naturais.
Observa-se, ainda que lentamente, uma tendência de pensamento que busca encontrar novas relações cognitivas com a natureza, porém as formas de organização econômica existentes (livre mercado, economia mista, planejada) representam fortes obstáculos para garantirem a sustentabilidade.(Pearce, 1985)
Por outro lado, o conceito de sustentabilidade associado...

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